Os carros chineses são uma realidade em Portugal e prepara-se para tornar-se algo “normal”, como aconteceu no passado mais ou menos distante com as marcas oriundas do Japão ou da Coreia do Sul. É verdade que existe algum preconceito para com os produtos “Made in China”, mas os automóveis pretendem fugir a essa ideia e o BYD Atto 3 é um bom exemplo disso: um SUV compacto elétrico ao qual é difícil apontar defeitos.
O primeiro encontra-se na estética. O Atto 3 é facilmente identificável no bom sentido. Afasta-se daquelas linhas estridentes que distinguem outros modelos oriundos da China e adota uma linguagem de design bem resolvida. Dá para perceber que é um veículo feito pelo cliente europeu e vem com uma frente característica da BYD. Chama-se “Dragon Face” (é uma referência asiática) e distingue-se pela ausência de grelha. No seu lugar surge uma faixa cromada com as iniciais da marca que integra perfeitamente os faróis em LED.
O desenho da traseira é igualmente consensual, destacando-se a assinatura “construa os seus sonhos” para deixar claro qual é o lema da marca e a origem da sigla. A parte inferior possui uma espécie de difusor na cor da carroceria e para-choques.
Alguns podem apontar como um modelo algo discreto, o que até pode ser valorizado por alguns clientes, que pretendem alguma descrição. Contudo, na nossa opinião, o resultado convence.
Em termos de medidas, se observarmos suas especificações técnicas fica claro que o BYD Atto 3 é um SUV familiar, na linha de modelos como o Nissan Qashqai ou Peugeot 3008, por exemplo. Parece mais pequeno, mas não. Tem 4.455 mm de comprimento, 1.875 mm de largura e 1.615 mm de altura, o que o coloca num patamar superior a muitos SUV familiares.
Interior com personalidade
No interior, os materiais são de qualidade, atraentes aos olhos e oferecem muitas áreas de toque suave. Para alguns o desenho pode ser um pouco extravagante, mas certamente é original. Pelo menos a BYD esmerou-se para criar um interior diferente, longe de ser mais do mesmo.
As formas do tablier representam músculos em tensão, as peculiares saídas de ar cilíndricas parecem halteres, a alavanca das mudanças ou o apoio de braço central com um design inspirado numa passadeira rolante.
Além disso, os puxadores interiores das portas integrados nos altifalantes ou os três elásticos que funcionam como cordas de guitarra, sendo que cada corda tem um comprimento diferente, emitindo assim um som diferente, então talvez os mais habilidosos possam compor uma melodia.
São detalhes que alguns podem gostar e outros tantos não (aqui valorizamos a personalidade…), mas o que são sem dúvida os bons acabamentos que este exemplar traz. A qualidade percebida é bastante boa, principalmente com os estofos bicolor que também estão presentes nos painéis e nas portas. É difícil encontrar plásticos que estraguem o conjunto. Não é Premium, mas é um interior muito bom para um modelo de uma marca generalista.
O mesmo aplica-se à tecnologia, que conta com um sistema multimédia rápido e fácil de usar, como o de um smartphone Android. É representado através de um ecrã sensível ao toque que pode ter até 15,6 polegadas (12,8 polegadas na versão menos equipada) e pode rodar. Sim, com o toque de um botão pode rodar 90º para passar do plano horizontal ao vertical e adaptar-se às necessidades do condutor. Ou simplesmente surpreender o passageiro do lado. Que será o objetivo mais provável sempre que esta “funcionalidade” seja utilizada.
É complementado por um pequeno painel de instrumentos digital que não é tão proeminente, mas que cumpre perfeitamente o propósito. São 5 polegadas, apenas o suficiente para funcionar como um computador de bordo e exibir todas as informações básicas.
De resto, o espaço é suficiente. Os bancos dianteiros possuem amplitude em todos os ângulos, além de muitos espaços de armazenamento. Na segunda fila de bancos não fica muito atrás, pois há espaço mais do que suficiente para as pernas e o espaço para a cabeça não é mau. A largura é um pouco mais estreita, mas esquecemos quando vemos apoio de braço central, saídas de ar ou portas USB, A e C.
A bagageira fica um pouco acima da média graças aos 440 litros de capacidade. A verdade é que perdemos alguma coisa com o tamanho dos cabos de carregamento, mas é melhor que nos outros elétricos. O que impressiona mesmo é o equipamento de série, especialmente nesta versão Design, a mais equipada, que inclui elementos como o teto panorâmico com abertura elétrica, abertura da bagageira elétrica, jantes de liga leve 18 polegada, bancos em pele vegan, bomba de calor, carregador de bordo de 11kW, entre outros.
204cv e 420 km de autonomia
O número que dá origem ao nome Atto 3 significa que este modelo utiliza a E-Platform 3.0, comum à maioria dos modelos da BYD. O motor elétrico síncrono de íman permanente debita 204cv e 310 Nm de binário, mais que suficiente para um SUV familiar e que tem outro componente importante. A bateria “Blade” é uma bateria LFP (fosfato de ferro-lítio) de 60,48 kWh que não utiliza níquel ou cobalto para evitar possíveis problemas de abastecimento. Também melhora a sua estabilidade térmica e eletroquímica, sem falar que é arrefecido por uma bomba de calor de alta eficiência.
Em termos práticos, é capaz de uma aceleração dos 0 aos 100 km/h em 7,3 segundos, uma recuperação de 80 a 120 km/h em 4,9 segundos e uma velocidade máxima limitada a 160 km/h. Ou seja, números mais que suficientes para uma condução suave, confortável e até… desenvolta.
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O Atto 3 é fácil de conduzir, suave e até refinado nas reações, o motor elétrico responde de forma suave ao pisar do acelerador, mostrando-se progressivo a qualquer solicitação, independentemente da velocidade ou estrada.
O silêncio é uma qualidade inata em modelos deste tipo, mas no Atto 3 a BYD soube trabalhar o isolamento acústico para dar um passo à frente. Quase nenhum ruído chega ao interior, nem mesmo o ruído de rolamento, o que é sempre uma vantagem para os passageiros.
A bateria pode ser carregada em corrente alternada e corrente contínua. O equipamento de série inclui um cabo do tipo 2 e um cabo para carregar em casa. Neste caso, demora 30 a 53 horas. Se utilizar uma wallbox adaptada, para ter uma carga completa precisa apenas de seis horas (a 11 kW). No carregamento mais rápido, passa dos 10 a 80% em 46 minutos.
Pode ser carregado em apenas 29 minutos de 30 a 80% em corrente continua (carga rápida a 150 kw) mas em corrente alternada, com um carregador trifásico de 11 kW, passa dos 0 aos 100% em apenas 6 horas.
Não é barato…
O preço de 43.490 euros da versão ensaiada (Atto 3 Design – atualmente, com campanha de financiamento desce para os 38.990 euros) não é propriamente acessível, mas por menos 2 mil euros está disponível a versão mais simples, que só perde o ecrã de 15 polegadas (passa a ser de apenas 12,3 polegadas).
Em conclusão…
O Atto 3 é uma opção muito equilibrada e não desilude em nenhum aspeto ou domínio, com a vantagem de ter um interior diferenciado e um consumo bastante baixo. A maior dificuldade (além do preço) é mesmo o preconceito de pertencer a uma marca chinesa. Quem não tiver problemas com o rótulo de “carro chinês”, esta é uma proposta a ter em conta.
MAIS
- Conforto
- Espaço
- Consumo e autonomia
MENOS
- Comportamento dinâmico
- Direção muito filtrada
- Preço
BYD Atto 3 Design
- Bateria: Tipo LFP (fosfato de ferro e lítio) de 60,4 kWh
- Potência: 204cv
- Binário máximo: 310 Nm
- Tração: dianteira
- Aceleração (0-100 km/h): 7,3 segundos
- Velocidade máxima: 160 km/h (limitada eletronicamente)
- Consumo misto (anunciado): 1,1 l/100 km (primeiros 100 km com bateria carregada)
- Consumo de combustível (WLTP Combinado): 15,6 kWh/100 km
- Autonomia elétrica anunciada (WLTP): 420 km
- Peso: 1750 kg
- Preço da versão base: 41.990 euros
- Preço unidade ensaiada (Atto 3 Design): 43.490 euros