Ensaio ao Honda Civic Type R: Bate coração!

Ponto prévio: este não é um automóvel para quem queira passar despercebido (muito pelo contrário) e anda muito...muito mesmo!! Um verdadeiro catalisador de emoções...

Ponto prévio: este não é um automóvel para quem queira passar despercebido (muito pelo contrário) e anda muito...muito mesmo!! Um verdadeiro catalisador de emoções...

Existem poucos carros capazes de criar o efeito que um Civic Type R é capaz. Alguém parar ao lado apenas para tirar fotos (assistimos a esta situação por mais que uma vez) confirma que este não é um Civic qualquer e que tem uma aura única e muito especial.

O Type R é um Civic para especialistas. Mais: o Type R é um “Civic” para quem sabe o que está a fazer. Ter um Civic Type R pode significar ter um carro que até faz coisas parecidas com um carro de corridas; um Civic Type R é mais largo, mais baixo, mais brutal e o modo de condução “Comfort” é tão artificial que rapidamente percebe que os compradores deste modelo não podem estar interessados no conforto. E capacidade da bagageira? Esqueçam isso…

Se há algo que o Civic Type R não é, é… discreto. Quer pela estética, como pela mecânica…

A lista de argumentos do Civic Type R parece ir ao encontro do mais fervoroso adepto da condução: tem um dos motores mais explosivos dos últimos tempos, com um 2.0 Turbo a gerar 320cv, transmitidos às rodas dianteiras que processam todo o poderio mecânico sem perdas; a fidelidade com que desenha curvas a velocidades absurdas é um verdadeiro teste aos músculos do pescoço. Um desportivo a sério, que deve ser aprendido antes de ser explorado. Não que seja perigoso, mas para que se possa extrair tudo o que tem para oferecer.

A posição de condução perfeita é fácil de conseguir e a caixa manual de seis velocidades está à mão, o acelerador reage com progressividade e a suspensão, embora firme, acaba por ser mais tolerante que nos anteriores Type R.

É fácil encaixar o corpo nas “bacquets” vermelhas, ergonomicamente perfeitas, colocadas em posição “baixa”, para que o condutor (ou será piloto?) fique mais perto do asfalto, qual veículo de competição. Não fosse este um “brinquedo” para gente grande, de sensações, que é desde logo confirmado pela rapidez e curso curtíssimo de engrenagem da caixa de velocidades manual ou mesmo pela resposta firme do pedal de travão.

Estão disponíveis três “feitios” de condução, com o Type R a despertar sempre no mediano Sport, para mostrar desde logo ao que vem e incitar o lado mais “demoníaco” do condutor. Sobre o Comfort, para aqueles momentos em que se passeia a namorada ou esposa, e o mais “explosivo” modo R+. Este é o que oferece maior pureza de condução (e sensações).

Em todos os modos, de resto, variação da calibragem do amortecimento do firme, ao muito firme, culminando no extremamente… firme, algo ao que não é alheio os pneus de baixo perfil (35) e jantes de 20 polegadas.

À frente, encontra-se um motor 2 litros turbo (os atmosféricos são coisa do passado), que acorda para a vida às 2500 rpm e sobe rapidamente a escala de pulsações até às 7000 rpm, num frenesim sempre acompanhado por toada mecânica, com uma sonoridade rouca e poderosa emitida pelas três saídas de escape centrais. Só falta mesmo é uns “rateres”. Não podia ser perfeito, certo?

Se tudo isto é marcante, o que dizer dos números anunciados: 320cv e 400 Nm, com as responsabilidades entregues em exclusivo ao eixo dianteiro, que, com mestria, “devora” quilómetros de asfalto.

Primeira, segunda, terceira…Quase sem se dar por isso, já o velocímetro está a indicar velocidades proibitivas, com o chassis a assimilar o andamento sem qualquer esforço, traçando arcos perfeitos de umas curvas para as outras. O segredo (se é que existe um) é usar a potência. Tudo se passa (e passa por nós) a ritmos verdadeiramente alucinantes, pois o motor e escalonamento (curto) da caixa tal o permite.

Difícil no Type R é ultrapassar os limites de aderência. Só com muita determinação – ou fé, ou estupidez, depende da perspetiva – irá aproximar-se dos limites, porque antes disso já tudo se passa a velocidades desmesuradas.

Aliás, a facilidade de transformar os 320 cv e, sobretudo, os 400 Nm de binário disponíveis entre as 3000 e as 5000 rpm, em progressão na saída das curvas impressionam. No papel, o Civic Type R acelera dos 0 aos 100 km/h em 5,8 segundos e alcança os 272 km/h, algo que, logicamente, não tivemos oportunidade de confirmar.

Como se fosse em pista…

Por sorte, conhecemos um “troço” de asfalto ideal para testar as habilidades do Type R. Tem apenas algumas centenas de metros, mas são umas boas centenas de metros, com largura suficiente para se poder dar asas a abordagens mais criativas. E o Type R passa o teste com distinção. A única exigência é que sejamos firmes e decididos no “input” dado aos comandos. 

O trabalho da suspensão também é excelente (bem apoiado na enorme rigidez do chassis); o trabalho de desenvolvimento levado a cabo no Nürburgring está nestes pormenores, os quais fazem (toda) a diferença.

Como qualquer desportivo que se preze, os consumos variam muito em função do entusiasmo com que se trata o acelerador, com os valores mínimos a rodarem os 9 l/100 km e os máximos a superarem folgadamente os 20 l/100 km. Mais do que estes extremos, o que é importante reter é que o Type R premeia uma condução sensata com médias a rondar os 11 l/100 km, bem como que a conjugação desta atitude ao volante com momentos mais excêntricos deixa o computador de bordo entre os 15 e 17 l/100 km.

Com uma imagem explosiva, a condizer com a mecânica (e sensações…), o Civic Type R surge como um dos mais excêntricos desportivos compactos. Custa cerca de 50.000 euros. Um preço elevado, mas justo para um dos melhores e mais próximos da competição.

MAIS

Condução

Motor

Caixa de velocidades

Qualidade Interior

MENOS

Preço

Consumo

Som demasiado discreto

FICHA TÉCNICA

Motor – gasolina, 4 cilindros, injeção direta, turbo, intercooler

Cilindrada (cm3) – 1996

Potência máxima (cv/rpm) – 320/6500

Binário máximo (Nm/rpm) – 400/2500-4500

Transmissão e direção – dianteira, transmissão manual de 6 velocidades;

Aceleração 0-100 km/h (s) – 5,8s

Velocidade máxima (km/h) – 272 km/h

Consumos Extra-urb./urbano/misto (l/100 km) – 7,8/9,1/7,1

Emissões de CO2 (g/km) – 178

Peso (kg) – 1380

Depósito de Combustível (litros) – 46

Capacidade da bagageira (l) – 420 / 786 (c/ bancos traseiros rebatidos)

Preço base – 47.400 euros (50.450 euros – Type R GT)